Assinalam-se quarta-feira, cinco anos da classificação da região do Barroso, constituída pelos concelhos de Boticas e Montalegre, como Património Agrícola Mundial pela Organização das Nações Unidas para a Alimentação e a Agricultura (FAO), o único território do país da alcançar tal feito.
Esta distinção, certificada no dia 19 de abril de 2018, reconheceu o sistema agro-silvo-pastoril do Barroso como um importante método de defesa do património agrícola a nível mundial e teve como fundamento a valorização do mundo rural e dos produtos endógenos, sustentado pela preservação da agricultura tradicional, associada a práticas e métodos ancestrais desenvolvidos pelas comunidades locais, bem como a proteção do meio ambiente e das paisagens.
Por coincidência, esse será também o último dia da Consulta Pública relativa ao Projeto de “Ampliação da Mina do Barroso”, que pretende a exploração de lítio em Covas do Barroso e que ameaça seriamente o direito à saúde, ao ambiente e à qualidade de vida, direitos elementares das populações, constitucionalmente consagrados.
O Presidente da Câmara de Boticas, Fernando Queiroga, reforça a importância da classificação atribuída a este território há cinco anos, sublinhando “as mais valias que a mesma veio trazer à região do Barroso, amplamente promovida durante este período de tempo, atraindo cada vez mais visitantes a este território de caraterísticas únicas, promovendo os produtos endógenos de grande qualidade, como a Carne Barrosã e o Mel de Barroso, e contribuindo para a fixação dos jovens”, garantindo ainda que “este selo de qualidade continuará a ser determinante para um maior desenvolvimento do Barroso, através da concretização das ações previstas no Plano de Ação do Território GIAHS e da sensibilização dos nossos agricultores, bem como os proprietários florestais, para a preservação do vasto património agrícola, paisagístico e florestal existente na região”.
O Presidente da Câmara de Boticas reforça ainda que “o selo de Património Agrícola Mundial é um orgulho para todos os botiquenses e continua a ser um desígnio nosso que este território se perpetue no tempo sob a denominação de Reino Maravilhoso, como afirmava Miguel Torga, algo que se encontra seriamente ameaçado pela possível exploração de lítio em Covas do Barroso, o que, a confirmar-se, irá por em causa esta classificação, já que afetará uma área muito significativa do Barroso Património Agrícola Mundial, destruindo habitats e o meio-ambiente, o que fará com que esta região perca a sua maior riqueza e nunca mais se consiga recompor, já que em poucos anos se irá destruir o que levou séculos a construir, levando o Barroso a perder a sua identidade e o carácter diferenciador da sua paisagem e das suas práticas comunitárias”.