Simulacra et Imagines Deorum
O rosto das divindades: o papel das imagens de divindades na génese da escultura
no Ocidente do Império Romano
Colóquio internacional em Boticas (Portugal)
24. –27. de Maio 2012
Os soldados romanos, mais tarde seguidos por comerciantes, aventureiros, colonos e respectivas famílias, traziam na sua bagagem não apenas bens materiais, como também heranças intelectuais, quando, no decorrer do alargamento do Império Romano durante o século II a. C., foram avançando até ao fim do mundo, até ao longínquo ocidente dos ecúmenos. A sua herança, que abrangia não só conhecimentos técnicos, mas igualmente culturais e que, a título exemplificativo, abrangia um espectro da gromatica até à centuriação, métodos mais racionais do que aqueles até então utilizados para a exploração de minério até à própria organização das minas, alcançou inicialmente grupos isolados, depois, com o decorrer do tempo, a sociedade inteira e respectivas áreas de vida. Os seus modelos suscitaram, não sem pressão militar, administrativa e social, mudanças profundas nas regiões isoladas das novas províncias. A transmissão do conhecimento por parte dos conquistadores não se dava, por regra, de igual para igual, não a um nível horizontal, olhos nos olhos, como entre parceiros culturais equivalentes, mas antes acontecia de forma unilateral, assimétrica e vertical. A cultura greco-romana era sentida como modelar pelas próprias culturas indígenas. Simultaneamente, porém, as conquistas não levaram apenas ao alargamento da área de domínio romano e do horizonte geográfico de Roma, como também tiveram repercussões na sociedade e na cultura do próprio conquistador. A tomada de posse da península conduzia, dessa feita, a um processo abrangente de “romanização“, no qual as províncias hispânicas, tal como todas as outras zonas de margem da Europa, deveriam, por fim, tornar-se parte da cultura greco-romana.
Um olhar sobre o mapa da expansão romana torna claras as diferentes fases da conquista lenta da península. Enquanto o sul hispânico foi conquistado de forma relativamente célere em relação aos interesses romanos, o que mais tarde se tornará visível, por exemplo, na quantidade, no tamanho e no modo como as cidades são fundadas, as restantes regiões, do norte e do ocidente, são conquistadas bastante mais tarde. De um ponto de vista militar e político, o processo é concluído com a conquista dos últimos focos rebeldes no noroeste hispânico, apenas no tempo augustino. A partir de então verifica-se um aumento significativo em monumentos arqueológicos.
Alguns dos aspectos e resultados desse processo serão tratados neste colóquio. No centro das nossas reflexões estará a concepção e criação das imagens das divindades. Já do tempo pré-romano encontramos imagens de divindades e desde muito cedo se pode falar do início de uma escultura regional. Perante este cenário tornam-se mais nítidas as alterações surgidas com a introdução de imagens de divindades romanas e da escultura romana no ocidente hispânico. O ocidente da Península Ibérica oferece mais respostas à questão da génese das imagens de divindades e seu significado para a escultura do que o oriente, em que a rede de conquistas e de transformações se apresenta mais complexa, mais repartida e diferenciada. Comparativamente, os achados arqueológicos e epigráficos do ocidente, de um tempo imperial mais tardio, oferecem uma boa base para seguirmos o processo de adopção dos modelos romanos por um período maior.
Os primeiros dois contributos que servirão de introdução ao nosso campo problemático tratam a génese da imagem da divindade na Grécia e no Egipto. A génese das imagens de divindades e da escultura encontra-se em contextos culturais diferentes. Aqui a escritura/o escrito e a possibilidade de escrita, ou seja a transmissão textual, ganha um significado especial, diferenciando-se em relação às regiões hispânicas. Segue-se uma exposição que tem como tema as figuras divinas no período de Hallstatt e no de Latène. Esta conduz-nos à questão das imagens de divindades dos períodos mais antigos da periferia ocidental do Império Romano. Também aqui será dada primazia às fontes escritas. Uma outra situação apresentam-nos os monumentos das províncias renanas romanas, em que se encontram com mais frequência, embora de forma não homogénea, imagens de divindades do que na Península Ibérica. GUERREIROS CASTREJOS
No centro das subsequentes exposições encontrar-se-ão os monumentos da Península Ibérica, primeiramente os monumentos do tempo pré-romano. Entre estes merecem talvez maior destaque as estátuas de guerreiros lusitano-galaicos, por um lado, e as esculturas ibéricas, por outro, uma vez que são produzidas até ao decorrer do tempo imperial romano. Seguem-se os contributos finais que têm por tema as próprias imagens de divindades romanas, com especial foco sobre as esculturas na capital de província Augusta Emerita e sobre a cunhagem de moedas, que convida, assim, a demais comparações e reflexões. Concluído o colóquio, esperamos ter aberto um horizonte mais descritível e calculável com uma maior precisão das imagens de divindades greco-romanas que serviam de modelo aos monumentos esculturais do ocidente romano.
THOMAS SCHATTNER
Director do Instituto Arqueológico Alemão de Madrid
Ficha de Inscrição + Programa do Colóquio
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